Alunos da APAE são modelos em a “A arte de Ser artista”

Um projeto inédito realizado na APAE de Valinhos evolvendo alunos do Grupo de Teatro Vem Ser e Fotógrafos da cidade, resultou num trabalho de grande repercussão. O que era um sonho acalentado durante quase dois anos, se concretizou pela ação da pedagoga Ana Paula Tieko responsável pelo Grupo de Teatro onde os alunos queriam ser retratados representando um personagem.
Ana procurou o fotógrafo Ulisses Porto e foi através dele, que integrantes do FotoClube Valinhos foram convidados, dez toparam o desafio: Marcos Parodi, Tomás Cajueiro, Gustavo Schiezaro, Rafael Teixeira, Chris Day, Ricardo Tardelli, Jader Morais, Alexandre Bertão, Carlos E. Gertrudes e Ulisses Porto.
O maior desafio ainda estava por vir, os fotógrafos não conheciam os jovens e nem os personagens que queriam se transformar. Foi feito um sorteio e cada um teve um tempo muito pequeno para pensar na melhor estratégia. Numa rápida reunião foram informados sobre o trabalho que faria parte da exposição “A arte de ser artista”.
Para o fotógrafo Marcos Parodi, que há 40 anos registra a emoção de noivos, debutantes, o trabalho veio de encontro a um desejo de fazer algo artístico. “Durante todo esse tempo de trabalho, com um portifólio de serviços, nunca havia participado de um desafio como esse. Fui sorteado para fotografar o Anderson que queria ser retratado como Charles Chaplin. A Ana e a Lurdinha conseguiram os trajes, o bigode, chapéu e pensei num local, fomos ao Lar São Joaquim e o resultado foi maravilhoso”.
Já o jornalista e fotógrafo Jader Moraes, destaca que o desafio foi uma verdadeira prova de fogo, pelo pouco tempo, não deu para pensar muito, mais que a técnica, a emoção foi evidenciada, queria retratar o personagem da maneira mais autêntica.
“Me entreguei, o resultado não poderia ser melhor, retratei o Robson que queria ser um agente de trânsito.Com uniforme que a Secretaria de Trânsito emprestou, o rádio, fomos para a rua, este era o cenário, conseguimos uma parede que contratava com o amarelo da roupa e o resultado foi fantástico. Deixei a técnica para atender o sonho, espero que esse trabalho continue, vivi uma grande emoção e conquistei mais um amigo”.
A história de Carlos Eduardo Gertrudes foi como um chamado. Seu sonho era fotografar os alunos no dia a dia, mostrando o lado diferente, mas acabou não dando continuidade. “Estava afastado da fotografia, hoje trabalho em outra área, mas quando fui convidado pelo Ulissses e saiu no sorteio o Ronaldo querendo ser o goleiro de Corinthians, não pensei duas vezes. Confesso que esse trabalho foi um renascer em mim, vou retomar com a fotografia que sempre foi uma paixão”.
E Carlos destaca: “A foto com o Ronaldo me levou até sua família, criamos um laço de amizade e até pude levar a ele a camisa oficial do seu time e a chuteira, fiquei feliz com o resultado”.
Também o fotógrafo Ulisses Porto que fotografou José Carlos, cujo sonho era ser um palhaço que chamou de Sapeco, a missão não foi das mais difíceis. “Esse trabalho me abriu portas, criamos uma grande janela e conseguimos ver que esses jovens atores são verdadeiros quando encarnam um personagem. Escolhi levar o José Carlos no Coreto no Largo São Sebastião e pude contar com ajuda da Lurdinha que atua como palhaça no Grupo Riso em Gotas e também o Daniel Pavin que é Crown. Criamos o momento cênico e o Sapeco foi retratado na sua essência. Fui predestinado quando no sorteio saiu o José Carlos”.
Deise é uma das integrantes do teatro Vem Ser, tem deficiência motora e intelectual e seu sonho era ser fotografada como uma secretária executiva. Gustavo Schiezaro foi o fotógrafo sorteado para transformar o sonho em realidade.
“Queria fazer a foto ao ar livre, depois pensei numa empresa, num ambiente de trabalho, mas o pouco tempo impossibilitou, como trabalho na Câmara Municipal acabei trazendo a Deise. Pesquisei fotos na internet e como ela é deficiente físico, além da intelectual, pensei que a foto seria sentada, mas o sonho da Deise era ser fotografada em pé. A minha modelo foi toda produzida, pensamos no cenário, pose com óculos, bandeiras no fundo e começamos a sessão, eu subi e deitei na mesa para conseguir o melhor ângulo, para que a Deise ficasse em pé a Ana Tieko se colocou atrás para dar o suporte e captei o seu melhor ângulo, acho que fui feliz com o resultado”.
“Melhor que tudo nem foi a foto, mas o momento que passamos juntos, tentando realizar o sonho, a foto é apenas consequência, me senti honrado em participar e possibilitar à Deise a inserção social de maneira lúdica e real”.
Ricardo Tardelli fotografou a Nilza como Dona Benta do Sítio do Pica Pau Amarelo, o cenário escolhido foi um casarão no Parque Ecológico em Campinas e logo ao chegar Nilza disse: “Nossa que lugar legal, silencioso!
Como todo fotógrafo, Tardelli procurou se concentrar na parte técnica e ao mesmo tempo trabalhar com a emoção do personagem escolhido. “Foi um desafio, tive que desconfigurar o pensamento, sair da zona de conforto. Estar entre os dez fotógrafos foi um prêmio”.
O publicitário e fotógrafo Rafael Teixeira disse que ficou muito claro no grupo, que quem entrou desejou fazer o melhor. “Fui escolhido para fotografar a Lilian, que queria ser uma professora. Confesso que tenho dificuldades com a deficiência, quando menino vivenciei uma experiência com um parente que me deixou marcas, mas hoje vejo esses jovens com possibilidades reais de realizar os sonhos e percebo quanto a APAE é importante na vida deles e da família”.
“A Lilian não foi uma personagem, ela é professora, fizemos uma bagunça no dia da foto, foram umas duas ou três horas, os amigos do grupo de teatro colaboraram muito e conseguimos o clima de uma sala de aula. Sou fotógrafo amador, a foto para mim é uma distração, confesso que fiquei inseguro em entregar o trabalho, porque sou publicitário e isso me faz muito crítico, mas foi muito legal todos deram o seu melhor, fiquei feliz com o resultado sai mais humilde do que entrei, quero participar mais”.
A única mulher do grupo de fotógrafos Chris Day, como ela disse, foi convidada aos 44 minutos do segundo tempo, porque alguém havia desistido.
“Sou publicitária e fotógrafa e recebi como missão fotografar o Michel, que queria ser um malabarista. Para este trabalho tive a parceria do Marcos Parodi, que emprestou o fundo de estrelas e fizemos a foto no estúdio. Já sabia que a emoção iria suplantar a técnica, o Michel se entregou por inteiro como malabarista. Tivemos dificuldades, mas com ajuda da tecnologia o resultado final ficou maravilhoso”.
E Chris destaca: “Não consegui analisar nas dez fotos a técnica de cada fotógrafo, apenas vi a emoção, serei a primeira a dizer sim se tiver outro trabalho como esse, ser escolhida entre tantos fotógrafos foi um grande presente, acredito que todos como eu, ganhou muito mais que os alunos que fotografamos. Eu abri meu estúdio este ano em Valinhos e o trabalho foi selado com esse presente de verdade”.
Alexandre Bertão fotografou o Rodrigo com o personagem Chacrinha e disse que participar do projeto da APAE foi fantástico.
“Fotografei o Rodrigo como Chacrinha e de início, pensei que seria trabalhoso, mas quando chegamos no Parque Municipal onde é realizada a Festa do Figo, tudo aconteceu da melhor forma. O Rodrigo chegou acompanhado pela Ana e pela Lurdinha. Durante a sessão de fotos, o que era para ser mais um evento virou uma festa. Foram muitos sorrisos, muitas brincadeiras e muita energia positiva. Parecia que o Cassino do Chacrinha estava novamente no ar. Rodrigo é uma pessoa extremamente simpática, divertida e amiga. Foi uma ótima experiência. Simplesmente inesquecível!”
A aluna Daiane queria ser bailarina e o responsável por fazer a sua foto foi Tomas Cajueiro. “Criamos o ambiente na APAE mesmo, a princípio ela estava muito nervosa, mas aos poucos foi se soltando e no final conseguiu me mostrar toda delicadeza que ela carrega. Foi lindo!”
“A experiência foi fascinante, gosto muito quando a fotografia passa ser também um canal de empoderamento das pessoas, esse para mim foi o principal objetivo do Projeto.
No encontro com os fotógrafos, todos foram unânimes em destacar a experiência vivida e a importância do trabalho que deve ser mostrado na cidade para que o projeto continue nos próximos anos, retratando sonhos de outros jovens.

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